Criada na década de 90, no Canadá, a metodologia Privacy by Design vem ganhando cada vez mais espaço nas discussões sobre regulamentações e segurança de dados. A técnica prevê que todas as etapas do desenvolvimento de sistemas, produtos ou serviços coloquem a privacidade do usuário e a proteção de dados pessoais em primeiro lugar.
O tema se torna ainda mais essencial com a chegada da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigor em agosto de 2020 com a proposta de garantir a proteção e a transparência no uso dos dados de pessoas físicas.
Que a segurança da informação é um tema essencial atualmente, você já sabe. Mas como garantir a proteção do seu banco de dados e a privacidade dos seus clientes na prática? Neste texto, explicamos o que é a metodologia Privacy by Design, quais são seus princípios fundamentais e como aplicá-la na sua empresa!
O objetivo da metodologia Privacy by Design é que a privacidade dos dados dos usuários seja levada em consideração desde o momento de concepção de um software, produto ou serviço. Ou seja, de acordo com o PbD, a questão da privacidade deve guiar o desenvolvimento de todas as outras funcionalidades.
A ideia é que a segurança dos dados seja um eixo central, e não apenas um complemento. Dessa forma, ao adotar a metodologia Privacy by Design, a equipe de tecnologia da informação precisa estabelecer a privacidade como a configuração padrão para os futuros usuários.
Os 7 princípios do Privacy by Design
Para guiar a implementação da metodologia, Ann Cavoukian definiu sete princípios fundamentais de Privacy by Design. Confira quais são eles.
1. Proativo, não reativo; preventivo, não corretivo
O objetivo da metodologia Privacy by Design é antecipar e prevenir situações de invasão de privacidade. Dessa forma, qualquer sistema, produto ou serviço que utilize dados pessoais deve ser concebido já prevendo os possíveis riscos e adotando medidas que impeçam ou minimizem situações de ameaça.
Então, nada de esperar que um problema apareça para remediá-lo! A ideia é agir antes que as ameaças cheguem a se concretizar. Para isso, é necessário:
O comprometimento por parte da alta direção da empresa em estabelecer e reforçar padrões elevados de privacidade. Normalmente isso significa ir além dos padrões determinados por regulamentações e leis;
O desenvolvimento de uma cultura organizacional de compromisso com a privacidade e aprimoramento contínuo, que envolva toda a comunidade de usuários e acionistas;
A definição de responsabilidades concretas, de maneira que cada membro da organização saiba claramente qual é seu papel para garantir a segurança de dados;
O estabelecimento de métodos para reconhecer designs insatisfatórios quanto à privacidade, antecipar práticas e processos que sejam insuficientes e corrigir qualquer impacto negativo antes que se concretizem.
2. Privacidade por padrão
Para garantir o nível máximo de privacidade ao usuário, o método Privacy by Design estabelece que a privacidade deve ser o padrão. De acordo com esse princípio, o usuário não precisa fazer nada para preservar sua privacidade. Na verdade, é o oposto: o usuário deve proativamente permitir o acesso e o compartilhamento dos seus dados.
De maneira prática, isso significa que a empresa deve estabelecer um design que seja claro e amigável ao usuário e que traga informações transparentes sobre o uso das suas informações. Além disso, é importante minimizar a presença de dados em todas as etapas do tratamento: recolhimento, uso, conservação e difusão.
3. Privacidade incorporada ao design
A proteção à privacidade não pode ser algo adicional ou complementar, mas sim deve fazer parte de maneira integral de toda a estrutura do produto ou serviço. A metodologia Privacy by Design deve ser incorporada a partir da concepção e da arquitetura de sistemas, práticas de negócios e qualquer produto e serviço desenhados pela empresa.
É importante que a privacidade do usuário seja levada em conta de maneira:
Holística, já que contextos adicionais e mais amplos devem sempre ser considerados;
Integrada, porque todas as partes interessadas precisam ser consultadas;
Criativa, pois incorporar privacidade pode significar reinventar as escolhas atuais quando as alternativas não forem aceitáveis.
4. Total funcionalidade
Garantir a privacidade em um produto ou serviço para muitos significa perder outras funcionalidades. A metodologia Privacy by Design não vê dessa forma. Um dos seus princípios fundamentais é justamente que a implementação da segurança de dados deve somar funcionalidades ao projeto, e não prejudicar.
A perspectiva da metodologia aponta que é possível — e desejável — que a privacidade e outras funcionalidades e objetivos legítimos da empresa coexistam. As funcionalidades que apresentem conflitos com o princípio de privacidade devem ser modeladas de forma criativa para que possam funcionar juntos.
5. Segurança ponta-a-ponta
A segurança de dados deve ser contemplada desde o planejamento até a execução, implementação e manutenção do projeto, com a adoção de medidas eficazes e consistentes. Sem segurança não é possível ter privacidade.
Além disso, a preocupação com as informações dos usuários deve ser contínua, durante todo o ciclo de vida dos dados em questão. É importante garantir a confidencialidade e a integridade das informações desde a coleta até a destruição desses dados no fim do processo.
6. Visibilidade e transparência
Uma das chaves para garantir a privacidade é poder demonstrá-la, comprovando que o tratamento das informações é feito de maneira segura e ética. Por isso, a transparência é um pilar fundamental para demonstrar a responsabilidade da empresa.
Dessa forma, coleta, processamento e armazenamento de dados devem ser documentados de maneira totalmente transparente, incluindo informações sobre a responsabilidade dos dados em caso de algum vazamento ou invasão.
7. Respeito pela privacidade do usuário
A preocupação máxima da empresa, segundo a metodologia Privacy by Design, deve ser garantir e respeitar os interesses dos usuários com relação ao tratamento de seus dados. Isso é feito por meio de medidas de segurança sólidas, disponibilidade de informações e opções amigáveis ao usuário que empoderem o cliente.
O respeito à privacidade do usuário é embasado por quatro FIPs (sigla em inglês para Padrão Federal de Processamento de Informações), que são medidas de boas práticas para a gestão de informações no meio digital:
Consentimento: é imprescindível que o indivíduo dê seu consentimento, de livre e espontânea vontade, para a coleta, uso e divulgação de seus dados pessoais, exceto em casos permitidos pela lei.
Acurácia: informações pessoais devem ter acurácia, serem completas e estarem atualizadas conforme necessário para cumprir seus propósitos específicos.
Acesso: os indivíduos precisam ter acesso a seus dados pessoais e serem informados do uso e divulgação dessas informações.
Compliance: as organizações devem estar em compliance com normas e legislações, além de estabelecer e compartilhar com o público mecanismos para reclamações e remediações relacionadas à privacidade.
Como implementar a metodologia Privacy by Design? Veja 5 passos
Agora que já conhecemos os princípios do PbD, vamos entender melhor como adotá-los. Para isso, listamos 5 atividades importantes na implementação da metodologia Privacy by Design, que são recomendadas pela Autoridade Norueguesa de Proteção de Dados.
A organização preparou um guia para ajudar as organizações a entenderem os princípios do Privacy by Design e a cumprirem suas exigências de acordo com a General Data Protection Regulation (GPDR), lei que regulamenta a proteção e o uso de dados na União Europeia.
Entretanto, é importante lembrar que essas são orientações gerais. As ações que a empresa deve tomar vão ser fortemente influenciadas pelo tipo de produto que oferece, pelo setor de atuação e pela cultura de segurança do negócio. Dessa forma, é importante avaliar quais processos e atividades devem ser priorizados.
1. Treinamento
O treinamento, tanto para colaboradores quanto gestores, é importante para garantir que todos entendam a importância da proteção e segurança de dados. Os colaboradores necessitam saber quais os requisitos necessários para garantir a privacidade de dados, quais pontos devem ser avaliados e como garantir a proteção de dados em um produto ou serviço.
Também é importante que a equipe esteja ciente de que metodologias e rotinas devem seguir. Para isso, a organização deve montar um plano de treinamentos, avaliando o que é relevante e o que deve ser priorizado.
O guia elaborado pela Autoridade Norueguesa de Proteção de Dados traz um exemplo de checklist de quais atividades devem ser incluídas nos treinamentos para os seus funcionários.
2. Requisitos
Nesta etapa, sua empresa deve definir os requisitos de configuração para a proteção de dados e segurança da informação que o produto ou serviço ofertado devem seguir. Além desses requisitos é importante definir também os níveis de tolerância, os impactos da proteção de dados e os riscos de segurança existentes.
Quando estes pontos são detectados com antecedência, a equipe de desenvolvimento já sabe que requisitos de configuração precisam ser estabelecidos, bem como mitigar as ameaças relacionadas à segurança de dados em todo o ciclo de vida do software, produto ou serviço.
Para saber quais serão esses requisitos é importante ter em mente:
Quais categorias de dados pessoais são usadas;
Que informações podem ser obtidas sobre os indivíduos através deles;
Quem é o usuário e o dono das informações;
Quem será o controlador dos dados;
Quem processa ou armazena esses dados pessoais.
Com essas informações em mãos, sua empresa pode determinar quais leis, regras, diretrizes e códigos de conduta são aplicáveis e, assim, quais requisitos de configuração devem ser implementados.
Também é importante realizar uma análise de risco de segurança da informação para identificar quais dados estão vulneráveis e quais são as ameaças a que estão sujeitos. Assim, é possível prever os riscos e preveni-los antes que se concretizem.
3. Design
Neste passo, a empresa vai assegurar os requisitos de proteção de dados no design ou projeto do produto ou serviço. O design precisa incluir os requisitos identificados na etapa anterior, incluindo funcionalidades que possam garantir a segurança e a privacidade das informações dos usuários.
Para isso é importante os seguintes princípios:
Minimize e limite: a quantidade de informações pessoais coletadas e processadas precisa ser limitada àquelas que são legais e estritamente necessárias.
Esconda e proteja: os dados pessoais não devem ser comunicados, processados ou armazenados diretamente à vista. Isso dificulta o acesso em caso de ataques e protege as informações.
Separe: ao separar o processamento ou o armazenamento de diversas fontes de dados pessoais que pertencem a um mesmo indivíduo, você diminui as possibilidades de que seja possível criar um perfil completo de um dos seus clientes.
Seja transparente: o programa deve ser desenhado e configurado de forma que o cliente tenha informações suficientes sobre como o software funciona e sobre como seus dados pessoais são processados.
Controle: o usuário detentor dos dados tem o direito de controle sobre suas próprias informações pessoais. Isso inclui o direito de acessar, atualizar e/ou deletar esses dados.
4. Testes
Depois que os passos anteriores forem implementados, é necessário realizar testes para checar se todos os requisitos previamente definidos foram implementados. Também é importante verificar se há vulnerabilidades e se as ameaças detectadas nas outras fases foram solucionadas. Isso pode ser feito através de testes como:
Teste de segurança: significa testar o produto de forma completa para descobrir vulnerabilidades e garantir que o código assegura a segurança e a proteção dos dados adequadamente.
Testagem dinâmica: esse teste envolve analisar como o software se comporta em relação às diferentes permissões de usuário e em casos de falhas críticas de segurança. A testagem dinâmica garante que os usuários terão acesso somente às informações e funcionalidades para as quais eles têm autorização.
Teste de fuzzing: esse tipo de teste induz o software intencionalmente ao erro. Isso pode ser feito através de ferramentas que enviam dados aleatórios, mal formados e/ou incorretos a todos os possíveis campos do programa.
O guia traz também um checklist que pode te ajudar na etapa de análise.
5. Manutenção
Depois que o software foi lançado, é necessário garantir que ele continue a seguir a metodologia Privacy by Design. Para isso é imprescindível estabelecer um plano para gerenciar incidentes que podem vir a ocorrer.
A empresa deve estar preparada para lidar com violações de segurança e ataques que possam resultar em quebras na confidencialidade, na integridade ou na disponibilidade relacionada a dados pessoais.
Para isso, faça testes regulares, antecipe e preveja os possíveis problemas. Além disso, tenha uma central de atendimento preparada para lidar com as situações que possam surgir e para fornecer informações aos usuários sempre que necessário.
Agora que você já sabe mais sobre a metodologia Privacy by Design, conheça também o unico | check, a tecnologia de reconhecimento facial para autenticação e validação de identidades da unico. Para a empresa, a segurança de dados é um pilar essencial e todos os produtos, entre eles o unico | check, colocam a privacidade do usuário como prioridade.
Todos os processos que envolvem informações pessoais na unico possuem controles que garantem a confidencialidade e a privacidade do usuário. Isso significa que todos os procedimentos, como a coleta, transmissão, processamento, classificação, cópia, armazenamento e descarte de dados, adotam técnicas que buscam detectar e prevenir de maneira rápida e proativa qualquer ameaça ao sigilo dos usuários.