Maioria das crianças usa redes sociais antes dos 6 anos, revela pesquisa da Unico. Como enfrentar esse desafio na volta às aulas sem celular?

11/02/2025 4 min de leitura

Em 6 de fevereiro é celebrado globalmente o Dia da Internet Segura. A data e a mudança recente nas salas de aula de todo o Brasil nos lembram da urgência de garantir a proteção de crianças e adolescentes e e a segurança digital para além do tempo de tela

São Paulo, 6 de fevereiro de 2025 – Nos próximos dias, crianças de todo o Brasil vão carregar seus cadernos, estojo, livros e mochilas para as salas de aula. Contudo, nesse retorno à escola, um item que costumava acompanhar os estudantes vai ficar de fora: o celular.Resultando na diminuição do tempo de tela e o aumento da capacidade de foco. Afinal, crianças e adolescentes permanecem online em média 5 horas por dia, sendo que 13% passam mais de 10 horas por dia na internet.

Os dados são de uma pesquisa exclusiva da Unico, líder na validação de identidade, em parceria com o Instituto Locomotiva, divulgada hoje, no Dia da Internet Segura. O levantamento revela que  4 em cada 10 crianças tiveram seu próprio celular na faixa de 7 a 12 anos. E, no caso da introdução nas redes sociais, a idade é ainda menor: em média, os filhos dos entrevistados começaram a acessar as redes com 7 anos e passaram a ter perfis próprios com 8.

Claro que o problema não é o celular em si, mas a vulnerabilidade a qual esse público está exposto. Isso porque, conforme o estudo, esse aparelho é o dispositivo mais utilizado para o acesso à internet (94%). “A internet é muito presente na vida de crianças e adolescentes, principalmente no que diz respeito ao uso para entretenimento. Enquanto 27% deles usam diariamente a internet para acessar às redes sociais, quase metade utiliza o ambiente online para estudar”, explica Felipe Magrim, diretor de Políticas Públicas da Unico.

No que diz respeito às redes sociais, a pesquisa da Unico identificou ainda que, dentre os 59% que têm perfil próprio em alguma rede social, quase 50% deles entraram nesse universo entre 0 e 12 anos. “Sabemos que, no caso da primeira infância, os pais criaram o perfil do seu filho, mas o dado não deixa de chamar a atenção por conta da introdução precoce dessas crianças no Instagram, TikTok e outros”, analisa Magrim.

Para o diretor, a questão não é banir os filhos desses ambientes, uma vez que eles fazem parte da experiência social do mundo contemporâneo. “A exposição, na verdade, se torna um problema quando associada ao tempo excessivo em frente à tela e a comportamentos de risco em razão da falta de conhecimento e de habilidades digitais. Por isso, especialistas recomendam introduzir tais dispositivos acompanhados de um letramento digital — o que é papel não só das escolas, mas principalmente de pais e mães”.

Da teoria à prática

A boa notícia é que mais de 80% dos pais concordam que devem educar os filhos sobre a temática de proteção de dados e que discutir os riscos da internet é a abordagem mais eficaz de prevenção a crimes. A maioria, aliás, afirma que costuma conversar com seus filhos sobre o assunto, sendo que 63% dizem fazer isso com frequência.

Contudo, há oportunidades de melhoria no letramento digital dos menores, já que também foi identificado que quase metade das crianças e adolescentes com perfil nas redes sociais não fazem a gestão dos seus seguidores, seja porque têm perfil totalmente aberto, seja por, mesmo com perfil fechado, adicionarem qualquer pessoa. No caso daqueles que usam a internet para jogar online, assusta a constatação de que mais da metade das crianças e adolescentes conversa com jogadores desconhecidos.

Outro sinal de que o letramento precisa de reforço é a descoberta da pesquisa de que 6 em cada 10 pais acreditam que os filhos já compartilharam dados pessoais sensíveis nas redes ou através de mensagens, especialmente o próprio nome e o endereço de sua casa. E ainda há aqueles que têm certeza absoluta de que esse “vazamento” já ocorreu — a relação é de 3 em cada 10 entrevistados.

Como transformar o cenário atual

Para que estatísticas assim fiquem no passado, Felipe Magrim compartilha algumas dicas não só para pais e mães, mas todos os adultos envolvidos na educação de crianças e adolescentes:

1. Ensine sobre privacidade e segurança

Explique, em linguagem apropriada para cada faixa etária, a importância de proteger informações pessoais, como nome, endereço e dados escolares. Reforce que esses dados não devem ser compartilhados com desconhecidos, seja nas redes sociais, em jogos online ou em aplicativos de mensagens.

2.  Promova diálogos abertos sobre o mundo digital

Converse frequentemente sobre os conteúdos que seus filhos acessam e produzem na internet. Mostre interesse pelos jogos que jogam, vídeos que assistem e influenciadores que seguem, criando um espaço seguro para discutir dúvidas e preocupações.

3. Simule situações de risco

Ensine por meio de exemplos práticos, como o que fazer caso recebam mensagens de desconhecidos, links suspeitos ou pedidos de informações pessoais. Ensine-os a bloquear e denunciar contatos ou conteúdos impróprios.

4. Incentive o pensamento crítico

Ajude os menores a identificar notícias falsas, reconhecer golpes e entender como algoritmos podem influenciar o que aparece em suas redes. Isso os tornará mais conscientes do funcionamento da internet e menos vulneráveis a manipulações.

5. Seja o exemplo

O comportamento online dos adultos também é observado pelos mais novos. Portanto, siga as recomendações que você dá para eles, evite compartilhar informações pessoais sem necessidade e demonstre bom uso das redes.

6. Participe da jornada digital das crianças e adolescentes

Compartilhe momentos online com eles, como assistir juntos a um vídeo educativo, explorar jogos interativos ou realizar pesquisas escolares. Dessa forma, você estará presente para orientá-los em tempo real.

Metodologia
A pesquisa foi realizada em duas etapas: a qualitativa, que entrevistou 9 especialistas na temática de proteção de dados de crianças e adolescentes em ambientes digitais, e a quantitativa, que contou com a participação de 2.006 responsáveis por crianças e adolescentes em todo o Brasil. O levantamento ocorreu entre os dias 9 e 24 de outubro de 2024, com uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais.