Em expansão, privacidade de dados demanda profissionais qualificados

30/01/2023 6 min de leitura

Setor necessita de trabalhadores com diferentes qualificações, mas exige aprimoramento constante

 

Não faz muito tempo que cuidar bem do RG garantia a privacidade e evitava riscos de cair em golpes. Com a tecnologia avançando de forma acelerada, para manter a privacidade, é preciso de legislação própria, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), e de profissionais especializados no mercado. O assunto é tão sério que foi criado até o Dia Internacional da Proteção de Dados, comemorado em 28 de janeiro.

Mas você sabe quem são as pessoas que atuam nessa frente de trabalho? Quais qualidades são necessárias para seguir uma carreira em um setor tão promissor? Primeiro ponto: não é obrigatório ser engenheiro ou programador para isso. Há uma diversidade de profissionais ligados ao tema.

Sabrina Di Salvi Oliveira é Privacy Knowledge da Unico, empresa especializada em soluções de identidade. A trajetória dela, no entanto, começou na área de Comunicação Social. Formada em Rádio e TV, ela deu início à vida profissional em Comunicação.

Depois ainda cursou Letras e passou para a área de Treinamento & Desenvolvimento. Em 2019, começou uma guinada na carreira ao trabalhar com Treinamento e Comunicação para a área de Gestão de Mudanças no Projeto LGPD. Até aquele momento, ela só havia ouvido falar na lei.

“Como fui escalada para ser o ponto focal do tema, passei a fazer cursos para entender melhor. Fui da turma 23 do Instituto Data Privacy Brasil sobre LGPD. Fiz curso de Direito do Titular e todos os outros que apareceram na época para que eu pudesse compreender melhor o universo da lei”.

Sabrina conta que gostou tanto que acabou permanecendo no setor. “Fiquei tão inserida na área que passei a reportar direto para a recém-chegada área de Privacidade, passando a ser a especialista focada em conscientização por lá. Cheguei à Unico, em 2021 com o mesmo propósito”.

Aprimoramento constante

Mas a missão não é simples. No cenário atual, trabalhar com privacidade relaciona várias áreas de uma empresa. “Porque envolve desde os processos que identificam por onde os dados transitam, recomendações de tratamento desses dados (toda a ação feita com os dados pessoais: armazenar, coletar, guardar, excluir, tudo mesmo). Envolve ainda programa de conformidade com a LGPD, governança e conscientização, além da parte jurídica de adequação também”, diz Sabrina.

Ficou interessado? Saiba que o tema está superaquecido, com espaço no mercado brasileiro e europeu por conta das legislações de proteção de dados. Mas é necessário se preparar e se atualizar sobre o tema.

O cuidado com a privacidade ainda está engatinhando. As pessoas não têm o hábito de se preocupar tanto com os dados pessoais como deveriam. Tanto que é comum informar CPF, RG, endereço e outras informações em troca de um desconto ou brinde, sem nem questionar o porquê e para onde eles serão destinados. Sem perguntar quais serão os cuidados adotados com todas as informações.

“Eu sempre comparo a questão do empoderamento de entender para onde vão os seus dados, e escolher com quais empresas vai compartilhá-los, com a questão ambiental. Acredito que as pessoas vão passar a escolher (se já não passaram) as empresas que de fato cuidam dos seus dados, que se posicionam dessa forma, assim como foi a questão da empresa verde, ESG etc”.

Isso porque o perigo é grande. “Com os seus dados pessoais, alguém pode abrir contas no banco, realizar empréstimos, utilizar-se da sua identidade. O que é um risco muito maior que um roubo comum de um cartão de crédito, por exemplo, que você poderá bloquear”, finaliza Sabrina.

Evolução do setor

Kendji Wolf atua com informação e com dados sensíveis há bastante tempo. São mais de 20 anos dedicados à área, sendo os últimos três especificamente mais próximos do segmento de proteção de dados.

Mas, para elencar toda essa experiência no currículo, a formação foi extensa. Graduado em Estatística pela Unicamp, tem ainda pós-graduação em Marketing pela FGV, MBA pela Fundação Dom Cabral. Fez também curso de especialização em Gestão de Pessoas na Espanha, pela IEDE, e especialização em Internet of Things pelo MIT, nos Estados Unidos.

Segundo ele, com a evolução da tecnologia, os dados pessoais passaram a ser cada vez mais utilizados e os cuidados com segurança não avançaram na mesma proporção. Com isso, as pessoas acabam mais expostas sem se dar conta.

Wolf lembra que, até 20 anos atrás, ninguém se preocupava com informações que hoje precisam ser melhor gerenciadas. “Nosso CPF e RG eram impressos, ficavam guardados dentro da carteira. O número de telefone ficava em uma agenda de papel e informações pessoais vinham impressas. Hoje CPF, RG, número do passaporte, e-mail são informações que você precisa cadastrar em alguns lugares para que consiga executar e acessar diversos serviços”, afirma.

Para o profissional, mesmo depois da aprovação da LGPD, ninguém dá garantias absolutas no quesito segurança de dados. Muitas empresas ainda não se encontram aptas a armazenar e gerir com segurança as informações sob sua guarda. Mesmo assim pedem um rol de dados ao realizar uma simples compra pela internet.

Com isso, o consumidor fica em um dilema: se essas informações vazarem, a responsabilidade é da empresa, mas o dano segue com o cliente. Por outro lado, se não informar os dados solicitados, o produto não chega.

“Então é sempre uma escolha: qual o mínimo de informações que a gente vai pedir para o cliente e que seja necessário para o processo para que ele também se sinta confortável e não tenha que preencher um cadastro gigantesco de informações que, na verdade, não são pertinentes àquilo que ele está querendo junto à empresa? Esse é um pouco do motivo pelo qual a parte de governança e proteção está sendo bastante requisitada”, explica Wolf.

Para ele, do ponto de vista das pessoas, o grande desafio é o que se chama de alfabetização dos dados. Ou seja, é preciso haver uma conscientização de que as informações pertencem a elas. Mas, se forem repassadas a uma empresa, a organização se torna responsável pela guarda. Quando a relação de consumo se encerra, a informação volta para o cliente, porque são dele.

“Ele é o grande tutor das suas próprias informações e isso vale dinheiro, porque as empresas se aproveitam dos dados para fazer novos produtos, novas ofertas e aumentar os seus faturamentos. E, também, vale dinheiro no mercado paralelo, porque tem muita gente que usa ou tenta acessar essas informações para gerar fraude, gerar prejuízo para todo o sistema”, pontua Wolf.

Direito e tecnologia

Direito e tecnologia também têm caminhado juntos na era digital. O advogado Rodolfo Tamanaha, sócio do Madrona Advogados, por exemplo, sempre atuou com Direito Tributário e Direito Administrativo. Mas começou a se aproximar da área de tecnologia em 2012, quando trabalhou para o Ministério da Justiça.

“Participei das discussões envolvendo o marco civil da internet, além do tema do enfrentamento da pirataria em ambiente digital. Depois tive uma nova incursão na área pública, de 2016 a 2018, como diretor de Direitos Intelectuais do Ministério da Cultura. Um dos principais temas era a proteção do direito autoral na internet”, destaca.

Em 2017, unindo as áreas de tributário e tecnologia, defendeu tese de doutorado sobre tributação da economia digital. No ano seguinte, começou a participar das discussões no Congresso Nacional sobre a LGPD. E não parou mais.

“Decidi atuar nessa área de proteção de dados por vários motivos: é uma área de especialização de tecnologia; dados pessoais são um elemento fundamental para a economia digital, e sua regulação e sua proteção são elementos-chave. As próximas tecnologias que estão surgindo também dependerão de dados pessoais”, explica o advogado.

Segundo ele, por ser uma área em constante transformaçõe, é fundamental buscar especialização permanente. “Essa área de proteção de dados tem um enfoque jurídico forte, mas também exige conhecimento em outras áreas. Como o assunto ainda é muito novo no Brasil, decidi buscar uma especialização no exterior, em um local considerado referência (Univ Maastricht, nos Países Baixos)”, destaca Tamanaha.

Se há espaço nesse mercado? O especialista garante que sim. Isso porque privacidade e proteção de dados são temas relevantes para as atividades econômicas atuais, sejam as totalmente digitais, sejam as que estão se digitalizando. E estar em conformidade com a LGPD é um ativo reputacional para as organizações.

“Embora seja uma área que demanda constante aperfeiçoamento técnico, é bastante promissora. A sociedade e o mercado ainda estão em processo de digitalização e o tema da privacidade e proteção de dados continuará sendo chave para o desenvolvimento dos negócios”, finaliza Tamanaha.

 

Sobre a Unico: A Unico é uma empresa brasileira especializada em identidade digital, fundada em 2007. A IDTech se tornou um unicórnio em agosto de 2021 e já recebeu quatro rodadas de investimentos, posicionando-a como a segunda empresa SaaS mais valiosa da América Latina, em 2022. A Unico desenvolve soluções inovadoras para a proteção da identidade dos brasileiros nas relações com empresas privadas. São elas: biometria facial para autenticação de identidades, plataformas de educação corporativa, gestão de compra e venda de veículos e admissão digital com assinatura eletrônica, que foi reconhecida com o prêmio Top of Mind de RH. A companhia está presente em mais de 800 empresas-clientes, entre os maiores bancos privados, varejistas, fintechs, e-commerces e indústrias do país. Em 2022, a Unico foi nomeada como uma das empresas privadas mais promissoras do ano pela 5ª Edição do Ranking Anual Fintech 250 da CB Insights e esteve presente no Ranking Exame Negócios em Expansão, que reconhece as empresas brasileiras que mais cresceram no último ano. A IDTech é associada ao Fórum Econômico Mundial e integrante do Grupo de Trabalho sobre Confiança Digital. A empresa também desenvolve pesquisas em parceria com instituições acadêmicas nacionais. Saiba mais em https://unico.io

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