Consumidor dispensa fila, carteira e adere ao uso da biometria facial para pagamentos

01/12/2022 4 min de leitura

Ficção e realidade se encontram: seu rosto vai ser seu cartão de crédito e seu documento de identidade em um futuro bem próximo

Chegar ao supermercado e perceber que esqueceu a carteira em casa. Situações que impedem o consumidor de realizar uma compra devem se tornar cenas do passado. Isso porque o varejo vem apostando na biometria facial como meio de pagamento. Sim, em pouquíssimo tempo, o seu rosto será o seu cartão de crédito. A expectativa é que em menos de dois anos o modelo seja um dos mais usados não somente no País, mas em todo o mundo. A análise é do gerente de negócios da Serpro, empresa de tecnologia do Governo Federal, Henrique Mattiello.

A tendência é que a solução ganhe espaço de forma rápida na vida do consumidor por se mostrar prática, segura e sustentável. Vale lembrar que muitos já estão habituados com o recurso ao utilizar produtos e serviços, como no aplicativo do banco, o que facilita a busca e aceitação por novos mecanismos.

“Hoje a gente percebe um aumento significativo do uso da biometria por conta da facilidade que ela traz e pelo nível de acurácia que ela proporciona. Em bancos ela já é utilizada e agora no varejo já há alguns pilotos, nos quais o seu rosto é praticamente o seu cartão de crédito. Há uma curva de adesão e existem também os investimentos que as empresas vão ter de fazer para proporcionar esta experiência”, diz Mattiello.

Realidade no varejo

O pagamento através da biometria facial também é uma realidade para o Grupo Muffato, um dos maiores varejistas do País. Atuando com 82 lojas nos estados do Paraná e São Paulo, entre supermercados e atacarejos, a rede acompanha de perto as inovações tecnológicas que surgem no setor, explica o gerente de tecnologia do Grupo Muffato, Fábio Donadon.

“A aplicação desta tecnologia é importante porque é ágil na identificação de clientes e funcionários e cada vez mais devemos implementá-la, mas sempre observando as regras da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)”.

Apesar de já realizar a experiência em vários processos de autenticação de pessoas, a rede tem obtido bons resultados na autorização de pagamentos nos pontos de venda, informa Donadon. A solução tem melhorado a jornada do consumidor, que busca agilidade e facilidade na hora da compra, mas também traz benefícios para a empresa.

“O cliente ganha tempo na autorização das transações de pagamentos e nós ganhamos na redução de filas e na segurança”, acrescenta Donadon.

Debate importante

No radar das grandes empresas, o futuro dos meios de pagamento, inclusive, transformou-se em tema de um dos painéis a serem apresentados na Futurecom, maior evento de Tecnologia e Transformação Digital. Intitulado Biometria – pagamentos com o rosto e voz já são realidade.

“O usuário tem o rosto associado ao cartão de crédito e ele é a senha para validar as compras. Ele tira a etapa de ter de cadastrar senha. Ele proporciona uma experiência de uso mais fluída”, diz o gerente de negócios da Serpro, Mattiello.

A Unico, startup que atua com soluções de identidade digital, esteve presente no painel e contou como já autenticou mais de 38 milhões de brasileiros por meio da biometria facial. A tendência é elevar este número diante do cenário da evolução do mercado.

“A solução utilizada pela Unico é eficiente por conter diversas camadas de proteção, capaz de combater desde fraudes simples até detectar as mais sofisticadas. Sem contar a agilidade, ponto chave para as experiências que o varejo quer promover”, afirma Fernanda Beato, Diretora de Vendas.

Mas ainda há desafios a serem vencidos para que a tecnologia se torne amplamente utilizada pelo Grupo Muffato e pelo varejo de forma geral. “Temos que criar cultura de uso, passar segurança para os clientes e seguir rigorosamente a LGPD, pois se trata de um dado pessoal – a face – muito sensível e só garantindo a segurança do uso que teremos maior aceitação”, avalia Donadon.

Quanto tempo vai levar para que a biometria facial ou por voz predomine no varejo ainda não é consenso. Mas a inovação já é apontada como uma das medidas mais eficazes para se evitar fraudes. “Sem dúvida, é muito mais segura a identificação facial do que o uso de senhas, que podem ser copiadas, compartilhadas indevidamente ou até descobertas”, Donadon.

A segurança também é um dos destaques na avaliação do gerente de negócios da Serpro. “Existe uma camada de risco muito grande no uso de senhas. Boa parte dos call centers têm uma demanda que vem de recuperação de senhas. Existe um custo inerente para a gestão de senha tanto para as pessoas quanto para as empresas. Com a biometria, não. Ela ajuda como um fator de autenticação, como um selo. Não é facilmente descoberto”, acrescenta Mattiello.

A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) também será um ponto importante nessa revolução e um item na lista de desafios. “Tem que ter uma base biométrica confiável e extremamente qualificável para garantir a identidade segura da pessoa. Equipamentos que possibilitem isso. Precisa de conexão com a internet de alta disponibilidade. Seu equipamento de coleta tem que ser muito bom. A iluminação, enfim, tudo isso influencia na coleta. E a privacidade de dados, que é condição primária para a tecnologia. E tem que ser muito claro sobre as utilizações da biometria facial”, finaliza Mattiello.

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